18 setembro 2009

Homem escapa da morte e acusa Popó de ser mandante do crime

O ex-pugilista Acelino Freitas, o Popó, vai ser interrogado às 14h desta quinta-feira (17), na Delegacia de Homicídios (DH), pela suspeita de envolvimento no assassinato do ex-presidiário Moisés Magalhães Pinheiro, 28 anos, ocorrido na quarta passada.

A hipótese da participação do ex-campeão mundial de boxe no crime foi levantada pelo polidor de veículos Jônatas Almeida, 22, sequestrado junto com Moisés, pouco depois de Popó ir à casa dele para resgatar a sobrinha de 17 anos que estava morando no local havia seis dias. A sobrinha também vai depor hoje.

Por vontade própria, Popó vai se defender de acusações em delegacia
Foto: Antonio Queirós

Popó vai explicar à polícia o que aconteceu na tarde do último dia 9, quando esteve na casa de Jônatas, em Itapuã, para pegar a sobrinha, que tinha fugido da casa dos pais, após um desentendimento com familiares. O polidor chegou à residência pouco depois e ligou para o celular da jovem, após saber por vizinhos que Popó ameaçou voltar com a polícia.

Segundo a versão de Jônatas, o boxeador atendeu o telefone da sobrinha e negou a ameaça. Duas horas depois, homens que se identificaram como policiais abordaram Jônatas e Moisés, na portão da casa do polidor, quando eles voltavam juntos da praia. Os dois foram levados à força num Corsa dourado até a Estrada do Derba, em Valéria.

Segundo o polidor, os supostos policiais telefonaram para PMs da 31ª Companhia Independente da Polícia Militar (Valéria), que chegaram ao local pouco depois numa viatura. Ainda segundo Jônatas, os PMs da companhia de Valéria forneceram armas aos sequestradores e foram embora. Os dois foram levados pelos supostos policiais para um ponto de desova no Centro Industrial de Aratu (CIA). No local, os algozes tentaram executá- los a tiros, mas o polidor conseguiu escapar pulando numa ribanceira, mesmo algemado. Depois de fugir, escutou três disparos.

Os supostos policiais não conseguiram achar Jônatas por causa do matagal e da escuridão. O polidor conseguiu chegar à casa de parentes e procurou a 12ª Delegacia (Itapuã), na madrugada do dia 10, ainda com as algemas, que possuíam o emblema da Polícia Civil. O corpo de Moisés foi encontrado no dia seguinte. A delegada Francineide Moura, titular da DH, responsável pela investigação, disse que não existem provas materiais da participação de Popó. “O único elemento que eu tenho é a palavra de Jônatas contra a de Popó”.

O ex-pugilista resolveu se apresentar espontaneamente, após as acusações contra ele aparecerem na mídia. O advogado do lutador, Sérgio Habib, disse que tudo não passa de um mal-entendido.

Vítimas têm antecedentes criminais
As duas pessoas sequestradas por supostos policiais possuíam antecedentes criminais. Moisés Magalhães Pinheiro, 28, foi condenado pela Justiça há quatro anos por roubo de carro, enquanto o polidor de veículos Jônatas Almeida, 22, foi preso duas vezes por receptação de veículo roubado.

Moisés foi preso no dia 26 de fevereiro de 2008, na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV). Ex-professor de inglês, ele estava cumprindo a pena, mas recebeu um benefício para deixar a prisão este mês.

A advogada de Moisés chegou a alegar insanidade mental, no ano passado. Este ano, ele recebeu o benefício para deixar a prisão, depois de ter cumprido um ano e oito meses de cadeia, quase a metade de sua pena.

Já Jônatas foi preso duas vezes na DRFRV, em 2008, por receptação de veículo roubado. O ex-campeão mundial de boxe Acelino Freitas, o Popó, nunca teve passagem pela polícia.

Moisés morou por dez anos nos EUA
O ex-presidiário Moisés Magalhães Pinheiro, 28 anos, teve uma vida singular. Antes de ser condenado por roubo de carro, no ano passado, morou durante dez anos nos Estados Unidos da América, onde trabalhou como vendedor de veículos, e depois atuou como professor de inglês em Salvador.

Após a morte da mãe, por quem foi criado até os 17 anos. Moisés foi morar com o pai nos EUA. No exterior, ele se casou, teve um filho -hoje tem 8 anos - mas acabou se separando da mulher americana. No ano passado, depois de dez anos, retornou ao Brasil, após a volta do pai para a terra natal.

Na Bahia, trabalhou como professor de inglês no curso Microlins, até se envolver no roubo de um carro, cerca de seis meses depois de chegar do exterior. Preso e condenado, só recebia a visita da avó paterna na cadeia, porque o pai não o perdoou. Depois que o filho foi solto, os dois buscavam se reaproximar.

Participação de PM será investigada
A Polícia Militar abriu uma sindicância para apurar a denúncia do envolvimento de PMs no assassinato do ex-presidiário Moisés Magalhães Pinheiro, 28. O major Elias de Jesus Neves, comandante da 31ª CIPM (Valéria), está investigando a suposta participação de uma guarnição da sua unidade no crime, como acusou o sobrevivente Jônatas Almeida.

O major requisitou o nome dos policiais militares que estavam trabalhando no dia e pediu uma cópia do livro que registra as armas usadas por eles. Para verificar se policiais da companhia de Valéria estiveram no local apontado por Jônatas, a PM também pode recorrer ao GPS, equipamento instalado nas viaturas que permite reconstituir, pelo uso do radar, a trajetória do veículo, os locais onde parou e os horários. A Polícia Militar requisitou também cópia do depoimento de Jônatas à Polícia Civil, segundo informou a assessoria de comunicação da PM.

A delegada Francineide Moura, titular da Delegacia de Homicídios (DH), disse que ainda não tem provas para afirmar que o crime foi praticado por policiais, mas dispõe de fortes indícios. Além do depoimento do sobrevivente, que denunciou a participação de PMs no caso, existe ainda o par de algemas com brasão da Polícia Civil.

“As algemas pertencem à polícia, mas não posso afirmar que houve participação de policiais, porque é muito comum algemas serem extraviadas ou roubadas”, explicou a delegada. Além de Jônatas, a delegada já colheu depoimentos de familiares de Moisés e de testemunhas que não tiveram as identidades reveladas. A polícia não conseguiu identificar a placa do Corsa usada para sequestrar os duas vítimas e levar até o local do crime.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 17/09/2009 do CORREIO)

Fonte:http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=36099&mdl=29

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