26 agosto 2009

Segurança Cidadã do Pará é modelo nacional

Da Redação
Agência Pará

A cena não é comum em um dos bairros mais pobres e de maior índice de criminalidade da cidade: o cabo Ivan Estumano, 37, entoa um hino religioso na calçada, cercado por uma dúzia de crianças entre 4 e 12 anos. Todos cantam com vigor mensagens de amor e solidariedade. Estumano, que também é diácono de uma igreja evangélica num bairro vizinho, conhece algumas crianças e conversa com elas sobre a escola, sobre lições de vida, indica caminhos. Elas, as crianças, acabaram de sair de uma palestra sobre resistência a drogas e foram deixadas em casa na van da Polícia Comunitária, que atende o bairro da Terra-firme e do Guamá.

Para ele, a missão é difícil e mais complexa que simplesmente reprimir os ilícitos que ocorrem na comunidade. "Costumo dizer que ‘cacete' não dá jeito. Se desse, todos os encarcerados do sistema penal estariam regenerados. É isso que digo a elas e aos meus colegas PMs de outras bases", explica.

Estumano divide bem as coisas em seu papel de policial e líder religioso, mas não omite sua própria cidadania. "Digo para os menores em situação de risco que eles têm uma escolha diferente, mas não posso esquecer meu papel de policial. Se eles optarem pelo caminho errado, vamos nos encontrar em outra situação", alerta.

O modelo de segurança pública vigente no Estado há poucos anos, que fez a policia paraense ganhar notoriedade nacional de forma negativa, contrasta com essas novas ações, a primeira vista pouco convencionais. Mas elas estão ajudando a mudar a realidade dos dois bairros, que juntos somam 250 mil habitantes na capital paraense.

A base comunitária, projeto modelo do programa Segurança Cidadã, do Governo Popular, abriga um pequeno batalhão de 21 policiais, formado em técnica de proximidade e no Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd). Desde 2008, a base, que está localizada às margens do Canal do Tucunduba, arredores da Universidade Federal do Pará (UFPA), e em frente à Seccional Urbana da Polícia Civil do bairro, desenvolve ações educacionais, executa palestras e encaminha moradores nas mais diversas situações. "O princípio é ter um lugar agradável onde as pessoas da comunidade possam se aproximar, conversar, contar os problemas", explica o major Elson Luiz Brito, diretor de relações com a sociedade civil da Secretária de Estado de Segurança Pública.

Desde de 2008, a base já realizou mais de 1.200 ações na comunidade, usando a estrutura de todo o sistema integrado de segurança pública. Em parceria com o Batalhão de Polícia Ambiental, por exemplo, as crianças são levadas em grupos monitorados por professoras ao Parque Ambiental do Utinga, onde conhecem a reserva protegida da cidade e aprendem sobre convivência harmoniosa com o meio ambiente. Em parceria com o Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran), elas têm aulas de educação para o trânsito e assim por diante, de acordo com a agenda e as solicitações da comunidade.

Frequentemente, os policiais vão às casas com um formulário, que ajuda a identificar os problemas sociais mais comuns, além de obter informações preservadas sobre a criminalidade no bairro. E, não raro, os próprios moradores visitam a base fazendo solicitações ao poder público. "Recebemos pedidos que vão do saneamento ao transporte, entre tantas outras necessidades da comunidade. Os dados são catalogados e repassados às secretarias responsáveis, fornecendo subsídios para a criação de novas políticas públicas", continua o major.

A experiência caiu como uma luva para a necessidade da dona-de-casa Dinalva Gomes Gonçalves, 37, que lidera um grupo de mulheres preocupadas com o futuro das crianças na avenida Perimetral, que margeia o bairro da Terra Firme. Lá, elas estão sujeitas aos maiores riscos sociais. "Essas crianças precisam de uma alternativa, de um futuro melhor. Eu me preocupo muito com elas porque elas não têm muitas alternativas", disse a Dona Nalva, como é conhecida pelas crianças.

Nalva e outras mães também têm ajudado a mudar a própria imagem da polícia paraense junto às crianças e jovens. "Mamãe, ele é policial!", disse uma criança durante mais uma entrevista para o cadastro da base comunitária. "Sim, meu filho, mas ele é do bem", respondeu a mãe.

Mais rigoroso no discurso, o cabo Paulo Reginaldo, ressalta a técnica de aproximação como um dos pilares dos princípios que motivam a segurança cidadã. "Precisamos nos aproximar da comunidade para identificar os problemas e buscar soluções eficazes", explica.

O resultado já começa a ser reconhecido nacionalmente. O programa Segurança Cidadã foi o único da região Norte na lista de 41 selecionados pela comissão da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública para participar da Feira de Conhecimento em Segurança Pública, que vai ocorrer paralelamente à conferência entre os dias 27 e 30 de agosto em Brasília. O resultado foi promulgado no último dia 4, depois de serem avaliadas 224 propostas de todo o país.

Com o reconhecimento e a visibilidade ao programa, a coordenação acredita que ele vai ser ainda mais apropriado pela população. "Ganharemos também em qualificação, pois a principal premiação é um convênio de cooperação técnica entre as instituições selecionadas e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)", explica o major Élson, que vai a Brasília conhecer as outras propostas aprovadas para a feira.

Elielton Amador - Secom

Fonte:http://www.agenciapara.com.br/exibe_noticias_new.asp?id_ver=49793


0 comentários:

Postar um comentário