07 março 2009

Corrupção: propina leva coronéis da PM para a prisão

Um caso de corrupção no alto escalão da Polícia Militar resultou, nesta quinta-feira (5), na prisão de 12 pessoas, entre elas três coronéis: o ex-comandante da PM no estado, Antônio Jorge Ribeiro Santana; o ex-comandante do Corpo de Bombeiros, Sérgio Barbosa, e Jorge Silva Ramos, do Departamento de Apoio Logístico da PM (DAL). Todos são acusados de envolvimento num esquema fraudulento na compra de viaturas.
Polícia flagrou Santana quando recebia R$26 mil

Durante o cumprimento dos mandados, agentes do Comando de Operações Especiais da Polícia Civil flagraram Santana quando recebia R$26 mil dos diretores da empresa Júlio Simões Transportes e Serviços Ltda, Jaime Palaia Sica e William Laviola, na manhã desta quinta, no bairro do Comércio. Ainda na abordagem, foi preso também o lobista Gracílio Junqueira Santos, com R$21 mil, responsável pela intermediação. O coronel Ramos foi preso pouco depois de ter chegado ao DAL, setor responsável pelo fechamento de contrato, enquanto o coronel Barbosa foi surpreendido em casa. Também foram detidos o procurador da PM, André Thadeu Franco Bahia, e o tenente do Corpo de Bombeiros Antônio Derval de Sena Júlio.

Os coronéis Santana e Jorge Ramos verificam viaturas no pátio da PM

Prisão

A notícia das prisões se espalhou e logo tornou grande a movimentação de representantes da Associação dos Policiais Militares, da Procuradoria do Estado, promotores públicos, advogados dos acusados e jornalistas na Secretaria de Segurança Pública, no CAB, onde os acusados prestavam depoimento.

Logo depois, os militares foram encaminhados ao Comando Geral da PM, onde permanecem detidos. Os demais envolvidos estão sob custódia da Polícia Civil. Eles responderão por corrupção e formação de quadrilha.

Envolvidos

- Coronel Jorge Santana: Ex-comandante da PM

- Coronel Sérgio Alberto Barbosa: Ex-comandante do Corpo de Bombeiros

- Coronel Jorge Silva Ramos: Diretor de Apoio Logístico da PM

- Tenente Antônio Durval Senna Junior

- André Thadeu Franco Bahia: Procurador

- Gracílio Junqueira Santos: Lobista

- William Laviola e Jaime Palaia Sica: Grupo Júlio Simões

- Aidano da Silva Portugal, Aline Cerqueira de Castro, Jocélia Fernandes Oliveira e Sidnei Couto de Jesus

Comandante em dois governos

O coronel da Polícia Militar Antônio Jorge Ribeiro de Santana, 56 anos, nasceu em São Sebastião do Passé, região metropolitana de Salvador. Entrou na Academia de Polícia em 1973. De lá para cá, recebeu 17 medalhas de honra ao mérito por diversos estados brasileiros; dois títulos de cidadão - um de Candeias e outro de Ilhéus; uma comenda, a Maria Quitéria, outorgada pela Cãmara de Vereadores de Feira de Santana. Em janeiro de 2003, assume o comando da PM no então governo de Paulo Souto (DEM), permanecendo no cargo até agosto do ano passado.

Contrato envolve 191 viaturas da Polícia Militar

Em entrevista coletiva, na tarde desta quinta, na Secretaria de Segurança Pública (CAB), o secretário César Nunes, ao lado do coronel Nilton Mascarenhas, comandante da PM, disse que as investigações foram iniciadas há cinco meses, após denúncia ao governador Jaques Wagner de que havia fraude no processo licitatório para aquisição de 191 viaturas, usadas pelas Rondas Especiais (Rondesp) e também companhias de bairro com a adesivagem azul.

O contrato inicial de R$25.819.977 - já superfaturado - foi aditivado em R$6.454.994,25, perfazendo o total de R$32.274.971,25.“Para se ter uma ideia, a Polícia Civil vai adquirir 190 viaturas por R$15 milhões, enquanto as 191 viaturas da PM custaram aos cofres públicos R$32 milhões”, comparou Nunes.

Viaturas

Segundo ele, as 191 viaturas estão circulando no estado por uma autorização judicial. “Não temos condições de substituí- las da noite para o dia”, justificou. Ele disse que as escutas revelaram outros esquemas fraudulentos na compra de fardamento para a corporação e que há indícios de que a corrupção na PM vinha sendo realizada há pelo menos dez anos. “Temos informações de que Gracílio (lobista) tinha acesso constante à corporação”, contou o secretário.

Compra ilegal de viaturas foi realizada

Nunes disse que os depoimentos dos acusados serão confrontados com as provas colhidas durante as investigações, realizadas pela Superitendência de Inteligência da Polícia Civil. As provas foram baseadas em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.


Entenda o processo de fraude
O esquema de fraude na licitação para o aluguel de 191 viaturas para a Polícia Militar começou no início do ano passado. A empresa Júlio Simões ofereceu proposta acima do valor referencial (R$23 milhões), partindo de R$25 milhões. Uma segunda empresa, a cujo nome o CORREIO não teve acesso, saiu do páreo antes de findar o processo. Mas informações da Secretaria de Segurança Pública dão conta de que é uma empresa lícita.Uma terceira empresa - esta laranja - desistiu no momento da licitação, restando apenas a Júlio Simões.

Provas do crime foram apresentadas

Logo depois de vencer a licitação, a empresa acresceu o valor em 25%, e ainda assim foi acatado pelo comando da PM da época, mas o valor estratosférico chamou a atenção da Procuradoria Geral do Estado (PGE), que emitiu parecer contrário. Para burlar a fiscalização da PGE, pessoas ligadas à Júlio Simões adulteraram o parecer, que acabou por ser favorável à empresa.


Coronel Santana foi afastado em agosto
O secretário de Segurança Pública, César Nunes, disse que não. Mas há informações de que o governador Jaques Wagner teria exonerado o coronel Jorge Santana em agosto do ano passado após ter sido informado das suspeitas de que ele estava envolvido em um esquema de corrupção.

Os comandante Mascarenhas e César Nunes apresentam as provas

Fontes palacianas dão conta de que Wagner ficou a par da situação há pouco mais de sete meses, dias antes de exonerar Santana do cargo. Ainda segundo informação, Wagner teria mandado apurar os fatos assim que soube da suspeita. Mas para tal, precisava afastar o comandante. Até então, o coronel Jorge Santana era lembrado por ter conseguido a proeza de ter sido comandante da corporação na gestão do governador Paulo Souto, do DEM(antigo PFL), e ter se mantido na atual gestão do petista Jaques Wagner.
Na época do seu afastamento do comando da PM, comentava-se que ele aconteceu por conta da escalada da violência na Bahia, sobretudo em Salvador e região metropolitana. Pouco antes da saída do coronel, Wagner havia feito mudanças na cúpula da SSP.

Empresa tem sede em SãoPaulo
Acusada de corrupção ativa, a Empresa Júlio Simões foi criada em 1956 em Mogi das Cruzes, interior paulista. É a maior empresa de transporte do país, tendo 80 filiais espalhadas em vários estados do Brasil. Com um faturamento anual de R$1 bilhão, a Júlio Simões atua em transporte de cargas, de passageiros, coleta de lixo, seguros e comercialização de automóveis. Os números da empresa são grandes. São 12 mil funcionários, dois mil caminhões, dez mil carros, 887 ônibus, 5,9 mil passageiros transportados por mês e 6,1 milhões de litros de combustível consumidos por mês. No ano passado, ela foi eleita um dos três melhores operadores logísticos do Brasil.

FONTE:http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=20495&mdl=50

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