14 abril 2009

Líder de greve sofre sequestro relâmpago

Depois de passar cerca de uma hora e meia em poder de supostos raptores, o presidente da Associação dos Policiais e Bombeiros Militares (APBM), Francisco Sampaio, foi solto ontem à tarde. Ele apresentava lesões nas costas, pescoço, braços e no peito. Sampaio é o líder da greve desencadeada pelos militares, que completa hoje 15 dias.


Segundo relatos do próprio Sampaio e do soldado da PM Marconi Martins, que estava com ele no momento do sequestro, quatro homens encapuzados e armados com pistolas ponto 40, os abordaram ontem às 14h, em via pública, agrediram Martins no local e levaram Sampaio em um carro que estava em poder do bando.

Meia hora depois Martins já estava registrando ocorrência no 1º Distrito Policial ao delegado Juseilton Costa. Foi submetido a exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML), já que apresentava lesões em um dos braços e no pescoço.

Costa chegou a designar três equipes de policiais civis do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DPJC) que saíram em diligência em busca de informações que pudessem contribuir para a solução do caso. Ele mesmo, acompanhado do titular do DPJC, delegado Eduardo Batista, se dirigiu ao local do crime – próximo do Boa Vista Shopping, na avenida Capitão Júlio Bezerra, no bairro 31 de Março – a procura de provas.

No depoimento prestado por Martins à Polícia Civil, ele informou que uma testemunha presenciara toda a ação criminosa, inclusive anotando os números 8834 referentes à placa do veículo Gol cor prata, no qual Sampaio foi levado pelos homens desconhecidos.

O delegado Juseilton Costa evitou falar em linha de investigação, mas não descartou a ligação entre o sequestro e a greve realizada pelos policiais. “Não dá para definir isso ainda. Temos que ter muito cuidado, tem a situação tensa da greve deles. Não podemos dizer que é referente a isso [greve] nem dizer que não é. Temos que trabalhar analisando todas as possibilidades, mas agora é prematuro fazer qualquer afirmação”, disse antes de Francisco Sampaio ser encontrado.

A Polícia Militar também se mobilizou em busca do presidente da APBM. Por telefone, o comandante-geral da PM coronel Jairo Elgaly, disse à Folha que a instituição não compactua com esse tipo de atitude e que não tem qualquer ligação com o rapto. Informou que havia designado policiais militares do serviço de inteligência para investigar o crime. “Estamos preocupados. Sampaio é um membro da nossa Corporação”, ressaltou.

O deputado estadual Sargento Damosiel (PRP) acompanhou todo o depoimento do soldado Marconi Martins, no 1º DP. “Vou comunicar o caso [sequestro] à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Também vamos criar uma comissão na Casa para acompanhar todos os procedimentos judiciais aos quais os policiais serão submetidos quando a paralisação terminar”, informou no momento que deixava a delegacia.

Os policiais e bombeiros militares grevistas também saíram à procura do companheiro de farda. Conforme o diretor da Associação Nacional dos Praças (Anaspra), Marcos Prisco, tanto Sampaio quanto outros líderes do movimento estavam sofrendo ameaças. “Temos recebido ameaças diariamente por causa da greve. Por isso só saímos acompanhados”.

Sampaio conta como foi a ação

Para a surpresa da Polícia Civil, o presidente da APBM, Francisco Sampaio, foi encontrado pelos próprios policiais grevistas. Antes de ser inquirido pela autoridade policial, nas dependências do 1º DP, ele conversou com a imprensa e contou como tudo aconteceu.

Sampaio disse que se dirigiu até a casa do coronel PM Paulo Lhamas, para pegar dinheiro emprestado em nome da Associação a qual preside. Ele foi acompanhado do soldado Marconi Martins em uma moto.

Antes de chegar à casa de Lhamas, em frente a um supermercado e próximo ao Shopping Boa Vista, no bairro 31 de Março, Sampaio contou que eles foram abordados pelos quatro homens desconhecidos em um veículo.

Os homens que estavam armados e encapuzados colocaram um capuz na cabeça dele também e o jogaram dentro do veículo. Martins foi agredido e deixado no local.

Conforme Sampaio, os homens ficaram rodando com ele pela cidade e devem ter parado próximo da região de balneários no Caçari, onde iniciaram a sessão de espancamento. Ele disse que foi agredido com pedaços de pau. Sampaio apresentava diversas lesões pelo corpo.

Enquanto era agredido, os homens que ele disse “possuírem técnicas policiais”, afirmavam que iriam enfraquecer o movimento reivindicatório dos militares retirando do comando da greve o diretor da Anaspra, Marcos Prisco, e o sargento Da Silva, integrante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM. “Em momento algum me ameaçaram de morte ou a minha família”, declarou.

Posteriormente, ele foi deixado próximo da Vila Olímpica, no bairro Senador Hélio Campos, onde entrou em uma casa e pediu para telefonar para os amigos policiais para irem buscá-lo.

Sampaio disse acreditar que o sequestrou relâmpago ao qual foi vítima é uma represália à greve dos militares. Mas disse que apenas a Polícia Civil terá condições de informar a mando de quem o crime foi encomendado.

“Já agrediram nossas esposas, nossos integrantes. Estou com medo. Antes eu saía sozinho, hoje temo também pela minha família. Mas continuamos com o movimento, estamos mais fortes para continuar com as negociações”, disse.

FONTE: http://folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=59822

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