12 abril 2009

Crime: Atividade de baixo risco

"Em Natal hoje em dia mata-se à vontade. Em todos os bairros, a qualquer horário, por qualquer motivo. A população estremece, a polícia corre atrás com as mãos na cabeça e os assassinatos se sucedem. Em grande parte dos casos, e isso não se discute, o motivo é o envolvimento de homicida e vítima com o tráfico de drogas. Geralmente, o traficante extermina, sem titubear, o usuário que lhe deve há algum tempo. Isso pune o devedor e serve como exemplo para os outros viciados. Mas para um dos promotores de Justiça mais respeitados do Estado, não é só esse o motivo do aumento de homicídios no RN. Edevaldo Barbosa denuncia o que muitos da polícia sabem, mas ninguém tem peito para divulgar: a ação de novos grupos de extermínio formados por policiais.

“Hoje não é um grupo só. Tem mais de um grupo atuando e o filme é sempre o mesmo: policiais que se juntam com traficantes e aí começam a matar, a extorquir, a cobrar pedágio, a eliminar os concorrentes”, diz o promotor. Ele compara os dias de hoje com os que precederam a prisão do grupo liderado pelo ex-PM João Maria da Costa Peixoto, o “João Grandão”, em 2005.

Experiência - Edevaldo Barbosa é coordenador do Gaerco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e tem vasta experiência na investigação criminal. Os longos anos trabalhando na área de inteligência credencia o promotor a falar do assunto de forma tão embasada, contundente e destemida. E a bem da verdade, ele não concorda muito com a terminologia “grupo de extermínio”, para os bandos que atuam hoje em dia.

“Na verdade são quadrilhas que têm seus interesses ilícitos, espúrios, como manter o tráfico de drogas, extorquir pessoas e matam para a manutenção dos seus crimes. Porque o grupo de extermínio é aquele que mata por uma causa ideológica, o “matar” é o objetivo final. Neste outro não”.

Barbosa explica ainda que os grupos de hoje são mais aprimorados que o do passado, já que não comete os mesmos erros. Ele não relata a participação de membros do grupo de antigamente no atual, mas atesta a participação de policiais, sem querer especificar se são civis ou militares. “Eu posso lhe garantir que você tem grupos hoje formados, fazendo a mesma coisa que eles faziam. Com a presença de policiais.

O coordenador do Gaerco vai além, e culpa o poder público pela escalada da violência, já que considera as corregedorias de polícia inoperantes, por não punirem os policiais criminosos. Ele critica ainda a falta de investigação efetiva dos casos, o que acaba fortalecendo a impunidade. “Não vamos ficar batendo em cachorro morto, mas é notório hoje que a polícia não investiga. Você conta nos dedos os casos em que houve um crime e a investigação foi levada a cabo e se chegou a um culpado, com provas”.

O promotor estima que somente cinco por cento dos homicídios têm o inquérito concluído e o autor apontado. E classifica a investigação potiguar como de “quinto mundo”, citando o Instituto Técnico e Científico (Itep) como exemplo. “É inoperante, que produz muito pouco, assoberbado de serviço”, relata.

Para completar, o promotor aponta o sistema judiciário como colaborador do alto número de homicídios na capital. Segundo ele, a Justiça é excessivamente garantista para quem comete delitos no país. E lembra que o sistema carcerário contabiliza cerca de 90% dos homens como reincidentes e cita como exemplo um acusado que responde a catorze processos criminais no estado, e que sempre que é preso, consegue sair com facilidade. “Ou seja, no frigir dos ovos, cometer crime se tornou uma atividade de baixo risco. Mas isso não significa que a gente tem que se incomodar” completou o promotor.

PM adquire 100 pistolas Taser



Um dos recursos que a Polícia Militar acaba de adquirir, e que também deve ser usado no combate ao crime é utilizado pelas melhores polícias do mundo. E tem a capacidade de deixar um indivíduo completamente imóvel por cerca de cinco segundos. A pistola Taser dispara eletrodos que aplicam uma descarga elétrica capaz de interromper a comunicação do cérebro com os músculos.

Ao todo são cem pistolas que acabam de chegar ao estado. Sete policiais militares estiveram em Brasília e fizeram um curso específico para operar o equipamento, e servirão como multiplicadores, repassando o conhecimento aos outros PMs. Em cerca de cem dias as Taser devem estar nas ruas da capital. Pelo menos uma em cada viatura, nesta etapa inicial.

A pistola emite de quinze a vinte descargas elétricas pulsativas por segundo e o disparo pode ser interrompido pelo policial a qualquer momento. Os eletrodos atingem o alvo carregados com 5 mil volts, mas não mata por causa da baixa amperagem. A descarga age direto no sistema nervoso central, causando uma Incapacitação NeuroMuscular. A pessoa atingida não desmaia, continua vendo, ouvindo e pensando, mas não consegue controlar os músculos.

Cada pistola custou R$ 3.241,00 e é dotada de mira laser, funcionando com pilhas. Para que não haja um exagero, banalização ou descontrole no uso das Taser, cada uma é dotada de um sistema que permite registrar a data, a hora, o minuto e o segundo de cada disparo. As informações são obtidas com um simples “plugar” da pistola em um computador. O uso da arma é polêmico e o comandante da PM, coronel Marcondes Rodrigues, garante que não há registro comprovado de morte causado pela pistola. Mas na internet são encontrados diversos relatos contrários.

Número de mortes é crescente

Em 2006, foram registrados na capital e nas cidades conurbadas 130 assassinatos no primeiro trimestre. Já nos três primeiros meses deste ano, a estatística chegou à marca de 169 pessoas assassinadas.

Esta semana, a TRIBUNA DO NORTE fez a mesma coisa que já havia sido feito em uma reportagem publicada em 14 de maio de 2006. Uma pesquisa nos registros do Instituto Técnico e Científico de Polícia, com o objetivo de saber quantas pessoas haviam sido assassinadas no período. As constantes mortes ocorridas diariamente na capital justificam o breve estudo pelas páginas do jornal.

O que chama a atenção é que a reportagem de três anos atrás já alardeava os 130 homicídios como um número impressionante, com perspectiva de uma estatística recorde para a Grande Natal. De fato, naquela época o natalense começava a se assustar com os crimes de morte cada vez mais frequentes, nos quatro cantos da capital.

Março - Três anos depois, a coisa piorou muito. Natal cresceu ainda mais e os números da violência também. Somente em março deste ano, foram contabilizados 70 homicídios, o que dá uma média de 2,25 crimes deste tipo a cada dia. A marca é bem maior do que a de meses anteriores, chamando a atenção pela violência deste mês que acaba de passar.

Em janeiro deste ano, por exemplo, foram registrados 58 assassinatos na Grande Natal, um número mais aproximado da realidade – já cruel – da cidade. No mês de fevereiro, com três dias a menos, o número ficou em 41. Os 169 homicídios ocorridos no primeiro trimestre, demonstram bem a forma como o natalense tem se sentido: de mãos atadas, impotente, vendo diante dos seus olhos o crescimento sem controle da violência.

O aumento no número de homicídios em 30% em apenas três anos leva a uma outra questão importante. Talvez seja por conta de estatísticas como essa é que população não tenha só medo dos dias de hoje. Mas talvez muito mais, da violência dos anos que ainda virão. Por todos os bairros o medo é visível no rosto das pessoas e no comportamento. A população tenta a todo custo de trancar em casa e se munir de equipamentos de segurança, seja em casa ou nos carros.

Entrevista: Marcondes Pinheiro - Coronel

A Polícia vê esse aumento de homicídios, da criminalidade? O que está acontecendo?

Eu digo a você que a nossa polícia está preparada para o combate à criminalidade. E o grande mal da incidência dos crimes de hoje que assolam o país é a droga. É o uso excessivo da droga. É uma droga maléfica que está assolando o nosso país, que é o crack. É uma droga de fácil aquisição. É a droga que causa maior dependência química, que vicia em oito segundos.

Qual é a solução?

Só a repressão a gente sabe que não resolve. Porque se você apreende trezentos quilos, na próxima serão mil. E quando apreenderem mil a próxima serão três mil. Porque eu digo que a repressão não resolve? Porque o Brasil faz fronteira com os três maiores produtores de cocaína do mundo: Colômbia, Peru e Bolívia. E com o segundo maior produtor de maconha do mundo que é o Paraguai. O caminho é a prevenção. Mostrando ao jovem, ao adolescente o que é a droga, os efeitos e mostrando à família que quando verificar que o filho deu o primeiro passo, olhe no espelho e diga que ela é a responsável, porque deu espaço para o traficante. O Proerd (programa da PM com crianças e jovens) mostra isso. O que você tem que fazer é acabar com o usuário, para que o traficante não tenha o que vender. Grande parte desse homicídios é de traficante que mata os usuários que têm dívidas. O viciado faz de tudo para fumar, e se ele estiver devendo dez reais, e não pagar, o traficante mata.

Quais são os investimentos preparados?

Hoje nós estamos com cinco mil policiais fazendo cursos técnicos à distância. Para isso estamos dando a cada batalhão um telecentro, que é um laboratório de informática. Isso para proporcionar ao policial essa oportunidade de se qualificar usando a internet. Eles ganham a Bolsa-Formação, que é um programa dos governos federal e estadual.

E no que diz respeito a equipamentos?

O governo do Estado também demonstra preocupação fazendo aquisição de equipamentos, como as pistolas não-letais. Conseguimos graças a Deus ultrapassar a burocracia e destravar a locação de 300 viaturas.

Somente para a PM?

Para a PM ficarão cerca de 200 viaturas. E o que eu ganho com a locação? A auto-estima do policial. Não existe a possibilidade de o policial estar num carro sem contar com a confortabilidade. A empresa que ganhou tem a obrigação de, com qualquer choque ou colisão, repor o carro em duas horas, no mesmo estado em que estava. Além disso, estamos fazendo aquisição de trinta caminhonetes 4x4 que vão se destinar para o interior do estado, bem como 89 motocicletas, que já estão na nossa cidade e vão para o emplacamento. Creio que em dez dias elas já estarão a disposição da população. Adquirimos ainda armas letais como pistolas de calibre .40, coletes balísticos, munição farta.

E sobre o incremento do efetivo?

Temos também chegando, a partir do dia 27 de abril, 670 homens que iniciarão o curso de formação. Não resolve o nosso problema, nem o do Brasil. É um alento? É. Precisa de mais? Precisa. Mas a gente precisa ter a preocupação com a formação, com a qualificação. Dia 27 eles iniciam a formação, que tem a durabilidade de seis meses. A nossa previsão é de que em novembro eles já estejam a disposição da sociedade."

FONTE: http://tribunadonorte.com.br/noticias/105580.html

Tribuna do Norte
http://www.tribunadonorte.com.br

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