27 julho 2009

Quando o trabalho adoece

Frequência de crimes passionais envolvendo policiais militares chama atenção Paulo de Sousa // jpaulosousa.rn@diariosassociados.com.br Uma tendência macabra vem chamando atenção da população potiguar neste ano. Quatro policiais militares já assassinaram suas esposas e três deles depois cometeram suicídio no estado. O presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, o cabo Jeoás Nascimento dos Santos, lança o alerta: a carga horária excessiva e a falta de um acompanhamento psicológico satisfatório deixam o policial exposto a doenças emocionais.

Uma tendência macabra vem chamando atenção da população potiguar neste ano. Quatro policiais militares já assassinaram suas esposas e três deles depois cometeram suicídio no estado. O presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, o cabo Jeoás Nascimento dos Santos, lança o alerta: a carga horária excessiva e a falta de um acompanhamento psicológico satisfatório deixam o policial exposto a doenças emocionais.


Darlan Ranieli da Silva matou Monaliza Dias Avelino e suicidou-se em uma passarela, num crime que chocou o RN Fotos: Carlos Santos/DN/D.A Press
Dois desses casos ocorreram na capital potiguar. O primeiro em 20 de janeiro deste ano, por volta das 11h40, quando o sargento Edson Francisco de Souza, 33, matou a esposa Maria de Lourdes, 20, e depois se matou. O fato ocorreu na casa onde ambos moravam na Rua Bumba Meu Boi, Nova Natal, Zona Norte. Ele atirou três vezes na mulher e depois contra a própria cabeça. A motivação teria sido, segundo vizinhos, ciúmes.

Em 13 de fevereiro, por volta das 20h, o soldado Carlos Rodrigues Filgueira do Nascimento, 29, matou a ex-esposa Fabiana de Melo Fabrício do Nascimento, 27, e em seguida atirou em si mesmo na cabeça. A tragédia ocorreu na Rua do Estuário, Redinha. O casal tinham acabado de ter uma discussão. Segundo a polícia, o soldado tinha terminado o relacionamento com a mulher quatro meses antes e estava inconformado com a separação.

No interior do estado houve dois casos. Em 7 de janeiro, por volta das 13h30, o soldado Edimilson Fernandes Cavalcante da Silveira, 29, matou a esposa Sonaly Sângela Oliveira Silva, 24, com três tiros e depois atirou na própria cabeça. O fato ocorreu na residência do casal, na Rua Antônio Delmiro, bairro Belo Horizonte, Mossoró.

Segundo testemunhas, o policial estava de serviço com um companheiro quando resolveu passar em casa. Depois de ouvir tiros vindos de dentro da residência, o colega se deparou com o soldado e a esposa se debatendo no chão. Informações de vizinhos dão conta que a esposa estava querendo se separar do soldado, mas ele não aceitava.

PM tem um psiquiatra para 10 mil homens

O caso mais intrigante ocorreuem São Francisco do Oeste, no dia 23 de abril, quando o soldado Ângelo de Castro Borguini, 28, matou a esposa Maria Raniele de Freitas, 21, com um tiro na cabeça dentro de casa e foi encontrado morto em uma rodovia estadual. A polícia investiga a possibilidade de outro soldado, este irmão da mulher, ter matado Ângelo Castro. Em depoimento, o acusado, que foi visto atirando no cunhado, alega que teria efetuado o disparo após o corpo já ter sido encontrado.

Mas os crimes passionais envolvendo militares potiguares vêm chocando a sociedade há mais tempo. Um dos casos que mais chocaram o estado ocorreu em 12 de abril de 2006, quando o bombeiro Darlan Ranieli da Silva, 27, matou a companheira Monaliza Dias Avelino, 20, e suicidou-se na passarela da BR-101 na Candelária.

Bomba-relógio

O cabo Jeoás Nascimento denuncia que por causa de um acompanhamento psicológico insuficiente e uma carga horária muitas vezes excessiva, o policial militar acaba vulnerável a problemas emocionais. E isso, segundo o sindicalista, é apenas dois dos principais problemas enfrentados pelos PMs. Segundo ele, um PM tem de cumprir carga de 240 horas mensais de serviço. "E o estado ainda oferece, como se fosse um benefício, mais 30 diárias operacionais para que ele possa fazer hora extra. São mais 180 horas. E quando o oficial o convoca para um serviço extra, como o apoio em um jogo, ele tem de ir". Com tanto trabalho, diz o cabo, o PM tem pouco tempo para lazer ou ficar com a família. "Aí você não quer que ele adoeça?"


Jeoás dos Santos, da associação de cabos e soldados, denuncia carga horária execessiva e pouco apoio psicológico
Jeoás reclama que não há avaliações psicológicas periódicas. "O PM presta um dos serviços mais difíceis da sociedade, tendo de lidar com o pior lado dela, que ninguém mais quer enfrentar. E muitas vezes, nas ocorrências, acaba se envolvendo emocionalmente, por mais que tente agir com imparcialidade". O cabo afirma que não existe na corporação uma política de assistência psicológica depois que o policial fica doente. "Ele é somente licenciado ou tem um afastamento parcial". Segundo Jeoás, há apenas um psiquiatra na polícia para um efetivo de 10 mil homens, insuficiente para a demanda.



FONTE: http://www.diariodenatal.com.br/2009/07/26/cidades8_0.php

1 comentários:

O crime contra Monaliza Dias Avelino ocorreu no dia 05 de dezembro de 2006 e não no dia 12 de abril de 2006 como foi colocado.
Desde já agradeço a correção,
Janaina Dias Avelino

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