19 fevereiro 2015

Dados do TRE: Cabo Sérgio Rafael obteve três vezes mais votos do que Major Fábio em Campina Grande



O presidente da Associação dos Militares Estaduais da Paraíba (AMEP), cabo Sérgio Rafael, obteve mais do que o triplo de votos que o major Fábio conseguiu no segundo maior colégio eleitoral do estado – Campina Grande –, nas eleições 2014.
Somente em Campina, as urnas contabilizaram 5.879 sufrágios para Sérgio, ao passo em que o major somou apenas 1.873. Em 2010, quando foi candidato a deputado federal, Fábio obteve quase 10 mil votos em Campina Grande. A redução drástica em apenas quatro anos desperta para uma reflexão: por que o major Fábio vem perdendo ‘credencial’ no meio policial do interior do estado?
Vejamos alguns dados:
GUARABIRA – Sérgio Rafael 132 x 114 Major Fabio
ITABAIANA – Sérgio Rafael  150 x 28 Major Fabio
QUEIMADAS – Sérgio Rafael  273 x 41 Major Fabio
PATOS – Sérgio Rafael  277 x 96 Major Fabio
SOUSA – Sérgio Rafael  70 x 51 Major Fabio
CATOLÉ DO ROCHA – Sérgio Rafael  43 x 18 Major Fabio
CAJAZEIRAS – Sérgio Rafael  74 x 47 Major Fabio

É certo que eles disputaram cargos diferentes: o cabo foi candidato a deputado estadual, enquanto o oficial tentou a cadeira de governador. Em todo o estado, o cabo/PM obteve 10.606 votos, e o oficial totalizou 14.910.
Mas como existe uma ‘máxima’ no meio militar que diz “polícia vota em polícia”, esperava-se que o major obtivesse pelo menos a metade dos votos conquistados por Sérgio em Campina e em muitas outras cidades do interior. Não foi o aconteceu. Pelo que se constata nos números do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a maior parte do eleitorado militar do interior preferiu votar em Sérgio Rafael para deputado e em Ricardo Coutinho ou Cássio Cunha Lima para governador.
A análise desperta reflexão porque Fábio já era deputado federal nas eleições 2014, dispunha de muitos recursos e é conhecido em toda a tropa. Já Sérgio, com os proventos de cabo da PM, não tem condições financeiras de alavancar uma candidatura, mas, dentro do conceito de “policia vota em polícia”, conseguiu contabilizar mais votos do que o major nas maiores cidades do interior paraibano.
Na grande João Pessoa, major Fábio ainda mantém uma simpatia relativamente boa. Dos 14.910 votos que obteve para governador, 7.958 saíram das urnas da capital. Outros 2.109 sufrágios vieram dos municípios do entorno: Santa Rita (875 votos), Bayeux (635) e Cabedelo (599). Lembrando que a capital paraibana e essas três cidades vizinhas concentram mais da metade de todo o efetivo policial do estado.
Numericamente falando, poderíamos dizer que “o interior fez muito mais pelo cabo do que João Pessoa fez pelo major”, mesmo a capital tendo a vantagem matemática do contingente militar. Dos 14.910 votos obtidos pelo major, 10.094 (quase 68%) vieram da grande JP. E dos 10.606 votos computados a Sérgio Rafael, apenas 1.474 (13%) saíram das urnas da capital, Bayeux, Santa Rita e Cabedelo juntas. O resto – 87% - foi o ‘interiorzão’ quem deu ao ‘praça’.
ESTRATÉGIA EQUIVOCADA
No curso da campanha 2014, um grupo político-policial de João Pessoa provocou um ‘racha’ na tropa, sugerindo uma estratégia perigosa: “todos os candidatos da polícia se filiariam ao PROS, partido do major Fábio, para tentar uma vaga na Assembleia Legislativa”. A ala que acompanha o cabo Sérgio Rafael percebeu a inviabilidade da ideia e não aderiu. Passou, desde então, a sofrer vários ataques nas redes sociais.
Ao invés de unirem forças em torno do nome mais propício à conquista da cadeira, o grupo pessoense entrou em bloco no PROS. Resultado: não conseguiu reunir nem a metade dos votos que precisava para eleger um representante. O partido, que teria de somar em torno de 55 mil votos para eleger um candidato, não chegou a 27 mil. Mesmo com os quase 11 mil votos obtidos por Sérgio Rafael, caso o cabo tivesse acatado a ideia do ‘blocão’, o PROS faria 38 mil votos e ficaria muito distante da meta. E a Polícia e os Bombeiros militares passariam longe de eleger um representante.
A certeza que a equipe do Cabo Sérgio tinha sobre o fracasso dessa ideia se confirmou nos dados do TRE e ainda revelou outra prova de que a medida foi “um tiro na urna”. Entre os candidatos a deputado estadual pelo PROS, o mais votado foi William Veras, com 8.850 votos. E não é militar. O segundo melhor colocado, Irmão Cezar, com 5.047 votos, também não é militar. Se por acaso o PROS tivesse conseguido alcançar o coeficiente eleitoral nas eleições 2014, a cadeira não seria da PM/BM. Seria de um civil. Nada ‘pessoal’ contra esses dois postulantes, mas o projeto da PM e dos Bombeiros era (ou é?) eleger um representante para a categoria, e não para o partido.
O EXEMPLO DO INTERIOR
Toda classe profissional deseja (ou diz desejar) um representante político. Mas para isso, é preciso que o segmento saiba se articular politicamente. No interior do estado, os policiais focaram praticamente no nome de Sérgio Rafael para deputado estadual. Na cidade de Patos, o soldado Silvano Morais não abriu mão de se lançar candidato (é um direito de cada um), mas obteve apenas 506 votos. Quando se constata que a votação de Sérgio Rafael no Cariri-Sertão foi quase o triplo da de Silvano, percebe-se claramente que os militares sertanejos seguiram o raciocínio dos de Campina Grande e apostaram no nome mais forte para o momento.
Em João Pessoa, aconteceu justamente o contrário: mais de dez policiais sem potencial eleitoral se lançaram candidatos e dividiram os votos, resultando nos números que o TRE exibem para qualquer leitor analisar. Ou seja, as decisões políticas da capital preferiram o caminho da ‘divisão’, e não da soma. Deu no que deu.
DEMOCRACIA X ESTRATÉGIA
Obviamente que o ato de votar e de se lançar candidato são elementos da democracia e um direito de cada cidadão apto a exercê-lo. Mas se uma determinada classe profissional deseja, mesmo, conquistar sua representação política, é preciso pensar com estratégia e saber escolher o caminho mais viável para se chegar à vitória.
Faltaram apenas 3 mil votos para Sérgio Rafael ter sido eleito deputado estadual. Na estratégia do grupo do PROS, faltaram 27 mil. Quem estava com a razão? 


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