O presidente da Associação dos
Militares Estaduais da Paraíba (AMEP), cabo Sérgio Rafael, obteve mais do que o
triplo de votos que o major Fábio conseguiu no segundo maior colégio eleitoral
do estado – Campina Grande –, nas eleições 2014.
Somente em Campina, as urnas
contabilizaram 5.879 sufrágios para Sérgio, ao passo em que o major somou
apenas 1.873. Em 2010, quando foi candidato a deputado federal, Fábio obteve
quase 10 mil votos em Campina Grande. A redução drástica em apenas quatro anos
desperta para uma reflexão: por que o major Fábio vem perdendo ‘credencial’ no
meio policial do interior do estado?
Vejamos alguns dados:
GUARABIRA – Sérgio Rafael 132 x 114
Major Fabio
ITABAIANA – Sérgio Rafael 150
x 28 Major Fabio
QUEIMADAS – Sérgio Rafael 273
x 41 Major Fabio
PATOS – Sérgio Rafael 277 x 96
Major Fabio
SOUSA – Sérgio Rafael 70 x 51
Major Fabio
CATOLÉ DO ROCHA – Sérgio Rafael
43 x 18 Major Fabio
CAJAZEIRAS – Sérgio Rafael 74
x 47 Major Fabio
É certo que eles disputaram cargos
diferentes: o cabo foi candidato a deputado estadual, enquanto o oficial tentou
a cadeira de governador. Em todo o estado, o cabo/PM obteve 10.606 votos, e o
oficial totalizou 14.910.
Mas como existe uma ‘máxima’ no meio
militar que diz “polícia vota em polícia”, esperava-se que o major obtivesse
pelo menos a metade dos votos conquistados por Sérgio em Campina e em muitas
outras cidades do interior. Não foi o aconteceu. Pelo que se constata nos
números do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a maior parte do eleitorado
militar do interior preferiu votar em Sérgio Rafael para deputado e em Ricardo
Coutinho ou Cássio Cunha Lima para governador.
A análise desperta reflexão porque
Fábio já era deputado federal nas eleições 2014, dispunha de muitos recursos e
é conhecido em toda a tropa. Já Sérgio, com os proventos de cabo da PM, não tem
condições financeiras de alavancar uma candidatura, mas, dentro do conceito de
“policia vota em polícia”, conseguiu contabilizar mais votos do que o major nas
maiores cidades do interior paraibano.
Na grande João Pessoa, major Fábio
ainda mantém uma simpatia relativamente boa. Dos 14.910 votos que obteve para
governador, 7.958 saíram das urnas da capital. Outros 2.109 sufrágios vieram
dos municípios do entorno: Santa Rita (875 votos), Bayeux (635) e Cabedelo
(599). Lembrando que a capital paraibana e essas três cidades vizinhas
concentram mais da metade de todo o efetivo policial do estado.
Numericamente falando, poderíamos
dizer que “o interior fez muito mais pelo cabo do que João Pessoa fez pelo
major”, mesmo a capital tendo a vantagem matemática do contingente militar. Dos
14.910 votos obtidos pelo major, 10.094 (quase 68%) vieram da grande JP. E dos
10.606 votos computados a Sérgio Rafael, apenas 1.474 (13%) saíram das urnas da
capital, Bayeux, Santa Rita e Cabedelo juntas. O resto – 87% - foi o
‘interiorzão’ quem deu ao ‘praça’.
ESTRATÉGIA EQUIVOCADA
No curso da campanha 2014, um grupo
político-policial de João Pessoa provocou um ‘racha’ na tropa, sugerindo uma
estratégia perigosa: “todos os candidatos da polícia se filiariam ao PROS,
partido do major Fábio, para tentar uma vaga na Assembleia Legislativa”. A ala
que acompanha o cabo Sérgio Rafael percebeu a inviabilidade da ideia e não
aderiu. Passou, desde então, a sofrer vários ataques nas redes sociais.
Ao invés de unirem forças em torno
do nome mais propício à conquista da cadeira, o grupo pessoense entrou em bloco
no PROS. Resultado: não conseguiu reunir nem a metade dos votos que precisava
para eleger um representante. O partido, que teria de somar em torno de 55 mil
votos para eleger um candidato, não chegou a 27 mil. Mesmo com os quase 11 mil
votos obtidos por Sérgio Rafael, caso o cabo tivesse acatado a ideia do
‘blocão’, o PROS faria 38 mil votos e ficaria muito distante da meta. E a
Polícia e os Bombeiros militares passariam longe de eleger um representante.
A certeza que a equipe do Cabo
Sérgio tinha sobre o fracasso dessa ideia se confirmou nos dados do TRE e ainda
revelou outra prova de que a medida foi “um tiro na urna”. Entre os candidatos
a deputado estadual pelo PROS, o mais votado foi William Veras, com 8.850
votos. E não é militar. O segundo melhor colocado, Irmão Cezar, com 5.047
votos, também não é militar. Se por acaso o PROS tivesse conseguido alcançar o
coeficiente eleitoral nas eleições 2014, a cadeira não seria da PM/BM. Seria de
um civil. Nada ‘pessoal’ contra esses dois postulantes, mas o projeto da PM e
dos Bombeiros era (ou é?) eleger um representante para a categoria, e não para
o partido.
O EXEMPLO DO INTERIOR
Toda classe profissional deseja (ou
diz desejar) um representante político. Mas para isso, é preciso que o segmento
saiba se articular politicamente. No interior do estado, os policiais focaram
praticamente no nome de Sérgio Rafael para deputado estadual. Na cidade de
Patos, o soldado Silvano Morais não abriu mão de se lançar candidato (é um
direito de cada um), mas obteve apenas 506 votos. Quando se constata que a
votação de Sérgio Rafael no Cariri-Sertão foi quase o triplo da de Silvano,
percebe-se claramente que os militares sertanejos seguiram o raciocínio dos de
Campina Grande e apostaram no nome mais forte para o momento.
Em João Pessoa, aconteceu justamente
o contrário: mais de dez policiais sem potencial eleitoral se lançaram candidatos
e dividiram os votos, resultando nos números que o TRE exibem para qualquer
leitor analisar. Ou seja, as decisões políticas da capital preferiram o caminho
da ‘divisão’, e não da soma. Deu no que deu.
DEMOCRACIA X ESTRATÉGIA
Obviamente que o ato de votar e de
se lançar candidato são elementos da democracia e um direito de cada cidadão
apto a exercê-lo. Mas se uma determinada classe profissional deseja, mesmo,
conquistar sua representação política, é preciso pensar com estratégia e saber
escolher o caminho mais viável para se chegar à vitória.
Faltaram apenas 3 mil votos para
Sérgio Rafael ter sido eleito deputado estadual. Na estratégia do grupo do
PROS, faltaram 27 mil. Quem estava com a razão?