O Brasil elegeu ontem a primeira mulher para a Presidência da República: Dilma Vana Rousseff, do PT. Sua vitória teve a participação do cabo eleitoral mais popular do País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mesmo sem estar participando diretamente do pleito, teve papel fundamental ao transferir todo seu elevado índice de popularidade à candidata que escolheu pessoalmente para disputar sua sucessão e levá-la à vitória nas urnas neste segundo turno, mesmo sendo uma estreante na seara de uma disputa eleitoral e concorrendo com um nome forte da oposição, o ex-governador tucano José Serra.
Dilma Rousseff ficou com 56,05% dos votos, enquanto José Serra teve 43,95%. Foram 55,7 milhões de votos para Dilma e 43,7 milhões para Serra. Além disso, 4,6 milhões (4,4%) dos eleitores brasileiros votaram nulo e 2,4 milhões (2,3%), em branco. A abstenção ficou em 21,5%. Isso significa que 29,1 milhões de pessoas não compareceram para votar. Esses números são das 23h40 de ontem, quando estavam apuradas 99,99% das urnas.
Se dependesse dos números das primeiras pesquisas eleitorais divulgadas em 2007, a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República jamais teria sido levada adiante. Em outubro de 2007, a pesquisa CNT/Sensus mostrava a então ministra-chefe da Casa Civil com 5,7%. Essa mesma pesquisa, contudo, mostrava que cerca de 35% dos entrevistados poderiam votar em alguém apoiado por Lula. Com base nessa sinalização, o presidente traçou um engenhoso plano para lançá-la na arena da disputa presidencial, trabalhando intensamente para colar sua imagem à de Dilma.
E a estratégia funcionou. Coube a Dilma o lançamento de uma das maiores vitrines do governo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2007. No ano seguinte, Lula a batizou de “mãe do PAC”. Como boa discípula, Dilma se autonomeou durante a campanha eleitoral de “mãe do Luz para Todos”, programa do governo federal, criado em 2003, com o objetivo de levar energia elétrica às áreas rurais do País. E no decorrer da campanha, quando já liderava a corrida presidencial, assumiu de vez o instinto maternal e disse que pretendia ser, na Presidência, a “mãe de todos os brasileiros”.
Dilma é classificada como durona, rígida, séria, competente, inteligente, extremamente dedicada ao trabalho. Implacável com quem enrola e exigente com os subordinados. Comandou o Ministério de Minas e Energia de 2003 a 2005, até ir para a Casa Civil com a queda de José Dirceu da Casa Civil no escândalo do mensalão. Na nova função, tornou-se uma “mulher dura cercada de homens meigos”, como ela mesma definiu.
A ex- ministra já foi filiada ao PDT, mas em 2000 filiou-se ao PT, partido que lhe abriu as portas para chegar ao mais alto cargo do País. Até o final deste ano, completará 63 anos. Dilma já casou e se separou duas vezes com ativistas políticos que lutavam contra a ditadura, mãe de uma filha, Paula Rousseff Araújo, e avó de um neto, Gabriel, que nasceu no dia 9 de setembro deste ano. É dona de Nego, labrador preto e companheiro de caminhadas matinais.
Um de seus melhores amigos, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), é quem melhor define a personalidade da nova presidente do Brasil: “Ela trabalha o tempo todo e não deixa nada sem solução. Além disso, acredita que não foi por acaso que sobreviveu à ditadura, quando chegou a ser torturada, sobreviveu para cumprir a tarefa da nossa geração e deixar um País mais justo e solidário do que aquele que nós encontramos”.
Abstenção dos eleitores no 2º turno fica em 21%
Brasília (AE) – O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, considerou que a abstenção de 21,18% dos eleitores neste segundo turno está dentro da normalidade. “Não me parece que seja um número muito significativo, preocupante, pois os eleitores compareceram (às urnas)”, disse. “O índice está dentro da normalidade. Não macula o resultado final das eleições, pois 100 milhões de brasileiros compareceram às urnas. É algo do que podemos nos orgulhar”, continuou.
No primeiro turno, a abstenção foi de 18,1%. De acordo com Lewandowski, tradicionalmente entre o primeiro e o segundo turno há aumento de abstenção. “A Justiça Eleitoral estava preocupada”, admitiu o ministro, citando a confluência de uma série de fatores que poderiam afastar o eleitor, como feriado, condições climáticas adversas em vários Estados e até seca.
Lewandowski descartou, no entanto, a possibilidade de alteração da data a ser realizada o segundo turno, pois foi fixada pela Constituição. Ele cogitou, porém, a possibilidade de deslocamento do feriado. Além disso, o ministro comentou sobre a hipótese dos eleitores de Marina Silva, candidata do PV que ficou fora do segundo turno, não terem querido participar do pleito neste domingo. “Esta é uma especulação que também queremos fazer.” Ele evitou falar sobre a troca de acusações entre os dois candidatos que participaram da segunda rodada. “Não quero supervalorizar troca de farpas na eleição”, disse.
Serra promete “continuar a luta”
São Paulo (AE) – O candidato derrotado do PSDB à Presidência da República, José Serra, fez um pronunciamento por volta das 22h40 de ontem dizendo que recebeu com respeito e humildade a voz do povo nas ruas. “Quero cumprimentar a candidata eleita Dilma Rousseff (PT) e desejar que (ela) faça bem para o nosso País”. No final do discurso, Serra cantou o trecho do hino nacional que diz “verás que um filho teu não foge à luta”, mandou um recado aos que imaginam o PSDB derrotado: “Nós apenas estamos começando uma luta de verdade”. E prometeu: “Minha mensagem de despedida neste momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua, viva o Brasil.”
Emocionado, o tucano disse que disputou com orgulho a Presidência da República, mas o povo quis que (sua vitória) não fosse agora. E agradeceu os 43,6 milhões de votos recebidos em todo o País neste segundo turno. “Sou muito grato a todos e a todas que colocaram adesivos, bandeiras e vestiram camiseta Serra 45″, frisou, citando também os militantes que lutaram nas ruas e na internet em defesa de sua mensagem: “Vou carregar cada olhar, cada abraço, cada frase de estímulo e de vibração que recebi”. E lembrou dos seus seguidores no microblog twitter, sobretudo os jovens.
O ex-governador de SP José Serra citou que ao lado da votação que recebeu neste pleito, os brasileiros elegeram também 10 governadores que apoiaram sua candidatura. E citou “o companheiro de várias jornadas Geraldo Alckmin”, eleito governador no primeiro turno dessas eleições em São Paulo. “(Alckmin) Se empenhou na minha eleição mais do que se empenhou na sua.”
Marina recomenda sagacidade
Brasília (AE) – Minutos depois do anúncio do resultado das eleições, a senadora Marina Silva (AC) reiterou os planos de trabalhar por uma terceira via política no país, alternativa às lideranças do PT e do PSDB, que governam o Brasil desde 1995. “É um trabalho árduo, a terceira via é um embrião ainda, mais é maior do que as análises mais apressadas são capazes de mostrar”, observou a senadora.
Marina Silva parabenizou Dilma Rousseff pelo resultado e desejou mais do que “boa sorte”: “Desejo a ela a simplicidade das pombas e a sagacidade das serpentes”, disse, numa rápida entrevista à noite em Brasília.
A senadora disse que telefonaria depois à primeira presidente eleita para cumprimentá-la e reiterou mais uma vez a posição de independência, adotada pelo PV no segundo turno das eleições. “Aqueles que perderam têm de desejar boa sorte e contribuir para corrigir os erros e evitar que eles aconteçam, de forma independente”, acenou a senadora do PV.
Questionada sobre o apoio de deputados do PV ao novo governo no Congresso e até uma eventual participação em cargos, Marina Silva desconversou e disse que o tema não foi discutido pelo partido. “O referencial para apoio no Congresso ou outra coisa será sempre programático”, frisou. De Dilma, Marina espera, eleita por uma parte do eleitorado, governe para “todos”.
Marina Silva aproveitou a ocasião para lembrar os quase 20 milhões de votos que obteve no primeiro turno das eleições e que ajudaram a levar a disputa para o segundo turno. Segundo a senadora, os eleitores mandaram “um recado, que precisa ser lido com cautela por todos nós”. O recado, segundo a senadora, consistiria em mostrar um certo cansaço com a falta de propostas durante o debate eleitoral.
Marina Silva manteve reserva sobre seu voto no segundo turno. “Vou continuar usufruindo do benefício do voto secreto”, disse. E insistiu em que a posição de independência adotada pelo PV e que liberou integrantes do partido a apoiar Serra ou Dilma foi a melhor, na sua opinião.
A dois meses de terminar seu mandato no Senado, Marina disse que pretende ainda atuar no Congresso para evitar mudanças no Código Florestal, lei que estabelece o porcentual de áreas de proteção ambiental nas propriedades rurais do país. A senadora também pretende apresentar novas propostas antes do fim do mandato.
Fonte:tribunadonorte
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